terça-feira, 18 de novembro de 2008

O Espiritismo Obriga

O Espiritismo é uma ciência essencialmente moral. Então os que dizem seus adeptos não podem, sem cometer um grave inconseqüência, subtrair-se às obrigações que impõe.
Essas obrigações são de duas sortes.
A primeira concerne o indivíduo que, ajudado pelas claridades intelectuais, que a doutrina espalha, pode melhor coompreender o valor de cada um de seus atos, melhor sondar todos os retalhos de sua consciência, melhor apreciar a infinita bondade de Deus, que não quer a morte do pecado mas que se converta e viva e, para lhe deixar a possibilidade de erguer-se de suas quedas, lhe deu a longa série de existências sucessivas, a cada uma das quais, levando o peso de suas faltas passadas, pode adquirir novos conhecimentos e novas forças, fazendo-o evitar o mal e praticar o que é conforme à justiça, à caridade. Que dizer daquele que, assim esclarecido quanto aos deveres para com Deus, para com irmãos, fica orgulhoso, cúpido e egoísta? Não parece que a luz o tenha esquecido, porque não estava preparado para a receber? Desde então marcha nas trevas, posto esteja em meio à luz. Só é Espírita de nome. A caridade fraterna dos que vêem realmente deve esforçar-se por curá-lo dessa cegueira intelectual. Mas para muitos dos que lhe parecem será preciso a luz que o túmulo traz, porque seu coração está muito ligado aos prazeres materiais, e seu espírito não está maduro para receber a verdade. Numa nova encarnação compreenderão que os planetas inferiores, como a Terra, não passam de uma espécie de escola mútua, onde a alma começa a desenvolver suas faculdades, suas aptidões, para em seguida as aplicar ao estudo dos grandes princípios da ordem, da justiça do amor e da harmonia, que regem as relações das almas entre si, e as funções que desempenham na direção do universo. Eles sentirão que, chamada a uma tão alta dignidade, qual a de se tornar mensageira do Altíssimo, a alma humana não deve aviltar-se, degradar-se ao contacto dos prazeres imundos da volúpia; das ignóbeis tentações da avareza, que subtrai a alguns filhos de Deus o gozo dos bens que deu a todos; compreenderão que o egoísmo, nascido do orgulho, cega a alma e a faz violar os direitos da justiça, da humanidade, desde que gera todos os males que fazem da Terra um lugar de dores e expiações. Instruídos pelas duras lições da adversidade, seu espírito será amadurecido pela reflexão, e seu coração, depois de ter sido ralado pela dor, tornar-se-á bom e caridoso. É assim que os que vos parece um mal, por vezes é necessário para reconduzir os endurecidos. Esses pobres retardatários, regenerados pelo sofrimento, esclarecidos por essa luz interior, que se pode chamar o batismo do Espírito, velarão com cuidado sobre si mesmo, isto é, sobre os movimentos do coração e o emprego de suas faculdades, para os dirigir conforme as leis da justiça e da fraternidade. Compreenderão que não são apenas obrigados a eles próprios se melhorarem, cálculo egoísta que impede atingir o objetivo visado por Deus, mas que a segunda ordem de obrigação do Espírita, decorrendo necessariamente da primeira e a completando, é a do exemplo, que é o melhor dos meios de propagação e de renovação.
Com efeito, aquele que está convencido da excelência dos princípios que lhes são ensinados, e devem, se a eles conforme a sua conduta, lhe proporcionar uma felicidade duradoura, não pode, se estiver verdadeiramente animado desta caridade fraterna, que está na essência mesma do Espiritismo, senão desejar que sejam compreendidos por todos os homens. Daí, a obrigação moral de conformar sua conduta com a sua crença e ser um exemplo vivo, um modelo, como o Cristo o foi para a humanidade...


Luís de França

Revista Espírita - maio de 1866
Psicografia: Médium Sra. B...
Editora: EDICEL

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